quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Carlos Pio: O mundo é mais Brasil pela desigualdade e não pelo carnaval e futebol

Publicado em 27.10.2010

Davi LiraEspecial para o JC Online
Carlos Pio : Brasil vive democracia sef-service
Carlos Pio : Brasil vive democracia sef-service
O Brasil cada vez mais se aproxima do mundo porque a pobreza diminui a passos largos. No entanto o mundo se identifica mais com o Brasil pela expressiva desigualdade que o país ainda conserva. É pontuando com o "softpower" do País, resumido pela frase "Caipirinha, carnaval e futebol sem iguais", que o professor titular da Universidade de Brasília (Unb) Carlos Pio sintetiza um dos principais pontos que, acredita, fragilizam a democracia brasileira. O cientista pernambucano, que também é professor do Instituto Rio Branco, instituição vinculada ao Ministério das Relações Exteriores formadora de embaixadores, esteve presente no início do mês no Recife no encontro com estudantes na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O intelectual proferiu uma palestra retórica e, ao final, interagiu com a reportagem do JC Online. Abaixo os principais pontos.
JC Online - Qual é o panorama político-social atual do País?
Carlos Pio -
  Hoje o Brasil está imerso em dilemas morais da economia política. A nossa democracia "self-service", corrompida por interesses privados, mesmo em processo de consolidação, é uma verdadeira disputa de rendas. A pobreza é alta, mas está em queda; no entanto, ainda conservamos uma das maiores desigualdades sociais do mundo. Nos tranformamos em ator global e em líder dos excluídos. Mas, com as instituições que temos, o País não há de prosperar. 

JC Online - Por que não? Quais são as principais deficiências das instituições democráticas?
Carlos Pio -
 Impunidade, corrupção e instabilidade no marco legal. Sem contar com o corporativismo e a presença, ainda reticente, de familismos, mandonismos e coronelismo. Mas claro que não são todas as instituições que são assim; a Justiça Eleitoral é um exemplo de independência e eficiência.

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JC Online - Como o Brasil pode melhor se posicionar para o futuro?
Carlos Pio - 
O fato é que pouca liberdade econômica inibe a inovação. O Brasil precisa ficar atento sobre essa questão. No País, antes mesmo de se abrir uma empresa, é preciso pagar 105% de impostos e encargos sociais na folha de pagamento. Falta atacar essa estrutura tributária, especialmente a das médias empresas. E, claro, trabalhar para o fim a pobreza. 

JC Online - Qual o caminho para o combate à pobreza?
Carlos Pio -
 Os pobres somente irão conseguir sair da pobreza e enriquecer pela educação, pelo trabalho e através da inovação. Nessa trajetória, o Bolsa Família é, sim, necessário. Mas precisamos atacar a má qualidade da pré-escola e do ensino médio ao mesmo tempo. Basta de estratégias econômicas e sociais que favorecem grupos que há muito já são incluídos: regime dos servidores públicos, descontos no Imposto de Renda Pessoa Física e prisão especial são exemplos emblemáticos... Nossas instituições precisam ficar mais atentas às demandas dos excluídos e não continuar a favorecer os incluídos apenas.

SERVIÇO

Livro para aprofundamento: 
Relações Internacionais - Economia Política e Globalização, de Carlos Pio (Funag/Ibri, 2001)

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