quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Estradas do Nordeste são palcos de exploração sexual de menores

Situação grave e que é estimulada pela impunidade; mas isso pode começar a mudar devido a uma ação inédita do Ministério Público
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Reprodução/ TV Asa Branca

Da Redação do Portal +AB
 
Flagrantes de exploração sexual de crianças e adolescentes, no Nordeste, preocupam as autoridades. Ela acontece nas estradas, em bares e nas boleias dos caminhões. Situação grave e que é estimulada pela impunidade. Mas isso pode começar a mudar. Uma ação inédita do Ministério Público tenta responsabilizar os aliciadores com o pagamento de multas milionárias.

Uma das piores formas de exploração das crianças e adolescente se tornou comum nas rodovias brasileiras.  Em um flagrante, um caminhoneiro estava com duas jovens. Eles foram flagrados em uma operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Paraíba. Uma garota é menor de idade, mas o caminhoneiro mente.

A prostituição destrói a infância de muitas meninas. A maioria de famílias pobres, desestruturadas. Uma jovem assume ter 15 anos e fazer programa há três. “Quando eu comecei a sair de casa, andar pelas ruas, os homens chamavam e eu ia. Ainda virgem eu ia”, disse.

Exploradas sexualmente, algumas adolescentes também são seduzidas pelas drogas. Em geral, o crack e a maconha, que são mais baratos. “Faço porque eu gosto de fazer, é bom. E porque eu sou viciada. Depois que eu comecei a fumar pedra de crack”, contou outra jovem.

Uma adolescente de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, tem 13 anos. Desde os 12, ela faz programas. Afirma que para dormir com alguém, cobra R$ 30. Tão nova, ela já é acusada de aliciar outras meninas para a prostituição e foi encaminhada pela Justiça para uma unidade de recuperação no Recife. “Vou aliciar ninguém não. Entra na vida quem quer”, falou.

A pobreza ajuda a empurrar as crianças e adolescentes para a exploração sexual. E a violência e omissão dentro de casa são como sentenças para uma realidade dura e cruel. “Muitas delas acontecem quando elas são abusadas na própria família, ainda na infância. E aí elas passam a ter transtorno de comportamento e aí se torna mais difícil essa recuperação. Principalmente quando não tem família, quando a família não é presente ou quando a família contribui para que ela vá em busca de angariar dinheiro vendendo o seu próprio corpo”, contou a conselheira tutelar de Salgueiro, Maria Auxiliadora.

De um lado da placa fica Pernambuco. Do outro, a Paraíba. A rota da exploração sexual de crianças e adolescentes não respeita a divisa entre os estados. E, se antes, o mapa da prostituição infantil era formado principalmente pelas capitais e sustentado pelo turismo sexual, hoje, a nova rota inclui cidades pequenas do interior marcadas pela miséria e graves problemas sociais.

A rota da prostituição no Nordeste vai de Salgueiro para Pena Forte. A conexão é intensa também entre Trindade e Marcolândia e de Garanhuns para Patos.

Na tentativa de dar um basta à impunidade, pela primeira vez, o procurador do Trabalho, Eduardo Varandas 
(foto 4), recorreu à justiça do trabalho para processar 10 réus na Paraíba. Ele entrou com uma ação civil pública por dano moral contra os acusados, onde pede o bloqueio dos bens e indenização pelo crime sexual contra crianças e adolescentes. “Estipulamos valores entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. Levando em consideração, claro, a renda da pessoa, porque queremos coisas que possam ser pagas”, disse

“Isso vai abrir precedentes para outros estados. Os outros estados irão se unir para combater a exploração”, afirmou a coordenadora do Fórum Prevenção e Erradicação Trabalho Infantil, Maria Senharinha Ramalho.Apesar da vida difícil, as crianças ainda se permitem sonhar. “Meu sonho é só ver minha mãe feliz, e me ver eu mesmo feliz, na vida que eu quiser”, contou uma adolescente.

Qualquer pessoa pode denunciar situações como essas pelo disque 100, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da presidência da República. A ligação é de graça e não é preciso se identificar.

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